Crítica de "Animais Fantásticos: Os Segredos de Dumbledore" #2

Crítica de 'Animais Fantásticos: Os Segredos de Dumbledore' #2 | Ordem da Fênix Brasileira
Animais Fantásticos: Os Segredos de Dumbledore é dominado por tédio e obviedade - Visual impressionante não compensa ritmo monótono e duração desnecessária
Por Nico Garófalo | Omelete

Franquia derivada de Harry Potter, Animais Fantásticos nunca conseguiu reproduzir em tela o encanto da série original que conquistou a geração millennial. Embora …E Onde Habitam tenha apresentado com sucesso novos cantos do mundo mágico, o excesso de exposição e o uso de reviravoltas óbvias tornou cansativa a experiência de assisti-lo. Já Os Crimes de Grindelwald, segundo capítulo dessa nova leva de filmes, parece menos uma produção hollywoodiana e mais uma colcha de retalhos de ideias e eventos aleatórios imaginados por J.K. Rowling entre uma declaração transfóbica e outra. Neste cenário, Animais Fantásticos: Os Segredos de Dumbledore chega aos cinemas sob uma desconfiança natural. O novo longa da franquia, no entanto, é o mais regular entre seus "irmãos", embora seja também o mais monótono.

Com uma duração de 142 minutos, Os Segredos de Dumbledore não justifica seu tamanho. Longe da profundidade que a consagrou nos livros do bruxinho, Rowling concebe aqui uma trama básica sobre bem e mal, desenvolvida através de diálogos travados que, por mais que possam parecer naturais nas páginas, beiram a bobeira quando levadas às telas. Embora esteja em seu terceiro filme, a inexperiência da autora com o cinema é sentida em cada fala melosa ou piada fora de hora e ainda mais evidenciada pela direção sonolenta de David Yates.

Veterano da franquia - assim como o co-roteirista Steve Kloves -, o cineasta não diferencia lentidão de profundidade e os espaços vazios que deixa no filme apenas escancaram a superficialidade da metáfora para a ascensão do nazifascismo europeu criada por Rowling. Diferente do que fez com Voldemort em seus livros, a escritora não se preocupou em desenvolver os aliados de Grindelwald, que, mesmo contando com o carisma de Mads Mikkelsen, acaba resumido em um aspirante a ditador genérico.

Animais verdadeiramente fantásticos

Embora não chegue a compensar a lentidão de Yates, Rowling e Kloves, o trabalho do departamento de efeitos visuais entrega algumas das criaturas mágicas mais belas do Mundo Mágico em Os Segredos de Dumbledore. Diferentemente do que é visto em muitos blockbusters atuais, o cuidado aplicado em cada pelo, escama ou presa dos Animais Fantásticos é evidente, a ponto de ser possível acreditar que alguns destes bichinhos realmente estavam no set com o elenco.

As feras que batizam a franquia esbanjam criatividade, com designs que vão de adoráveis a ameaçadores e que prendem os olhos do público na tela, apesar do tédio causado pelo roteiro. Especialmente fofo, o qilin é talvez a adição mais encantadora à fauna bruxa, com uma caracterização capaz de arrancar suspiros de qualquer espectador que já tenha vivido com um bichinho de estimação.

Os novos cenários também criam uma maior experiência de imersão. Cheios de detalhes que mudam a cada segundo, os ambientes de Os Segredos de Dumbledore constroem a atmosfera mágica que a trama ignora, expandido ainda mais o Mundo Mágico com construções imaginativas que em nada devem ao que foi feito nos longas originais. Seja revisitando locais já bem conhecidos pelos fãs ou levando-os para novos destinos, o novo Animais Fantásticos expande tanto espaço físico quanto a mitologia do universo Harry Potter, algo que o primeiro filme ensaiou fazer em 2016.

Elenco salvador

Se os animais fantásticos proporcionam o encanto de Os Segredos de Dumbledore, o elenco do filme é que garante a diversão, apesar do roteiro falho. Mikkelsen, por exemplo, eleva o material medíocre que recebeu de Rowling e Kloves e, mesmo que o roteiro não faça muitos favores a Grindelwald, sua atuação impede que ele se torne um personagem esquecível.

O Dumbledore de Jude Law também se destaca. Dividido entre seu amor por Grindelwald e sua busca pela paz entre os mundos bruxo e trouxa, o futuro diretor de Hogwarts ganha um retrato melancólico e profundo, em um trabalho que compensa sua ponta supervalorizada em Os Crimes de Grindelwald. Sinalizando uma troca de protagonistas na franquia, o bruxo começa a ganhar mais destaque, com Eddie Redmayne e seu Newt Scamander tendo uma aparição mais discreta neste terceiro filme.

Mas a melhor atuação é, mais uma vez, de Dan Fogler. O ator ofusca seus colegas sempre que aparece em cena, servindo tanto como o centro emocional quanto o alívio cômico de Os Segredos de Dumbledore. Capaz de transformar o texto sem graça em falas hilárias, ele enche a tela com suas caras, bocas e barulhos, além de mostrar uma boa química com a recém-chegada Jessica Williams. A atriz americana, aliás, ocupa de forma competente o espaço deixado por Katherine Waterston, presente no longa de forma bem dispensável.

Com um roteiro tão descartável quanto as opiniões pessoais de Rowling, Animais Fantásticos: Os Segredos de Dumbledore é salvo por seu visual estonteante e pelo carisma de um elenco dedicado. Feito sob medida para quem não se importa com as polêmicas que cercam a franquia, o longa é, pelo menos, divertido o bastante para distrair o público por algumas horas - embora ainda existam melhores opções em cartaz.