"O Diário de um Auror": Capítulo 2 - O caminhar na caverna | Especial de 10 Anos

'O Diário de um Auror': Capítulo 2 - O caminhar na caverna | Especial de 10 Anos | Ordem da Fênix Brasileira
Hoje é dia de comemoração! A Ordem da Fênix Brasileira está completando 12 anos de atividades e aproveitamos para relembrar uma das seções mais visitadas e elaboradas do site: "O Diário de um Auror", que hoje completa 10 anos desde a primeira publicação da segunda fase.

O nosso amigo e colaborador Juan Brandão decidiu apresentar uma nova versão do capítulo 2, "O Mistério dos 3 Caminhos", apresentado em 2010. Nesta revisitação especial, podemos acompanhar com mais detalhes o início da jornada do auror Ywgie B. Maclaoud (pronuncia-se Iuguie Maquiláud) em sua misteriosa expedição.

Capítulo 2 - O caminhar na caverna

Após descer ao centro da caverna, comecei a caminhar rumo à entrada de ar que causava aqueles ventos tão fortes. O chão da caverna parecia ter sido pavimentado há milhares de anos, com pequenas estruturas rústicas de pedra, parecidas com paralelepípedos. Na metade do caminho, era possível ver claramente o lugar de onde originavam-se os ventos. No final do caminho de pedras havia uma enorme abertura em formato de círculo, eu arriscaria dizer que essa entrada deveria ter três metros de altura por três de largura.

Ao ficar diante da entrada, foi possível enxergar, mesmo que coberto de musgo e poeira, algumas inscrições. Tentei entender o que estava gravado, mas pareciam confusas e não faziam sentido. Existiam alguns hieróglifos e escritas cuneiformes, além de mandarim. A única coisa que pude reconhecer foi uma sigla escrita bem no centro superior do círculo: "V.I.T.R.I.O.L.".

Não demorei muito para me lembrar qual era o significado daquela sigla, aliás, parecia que aquele "ar" das montanhas estava me fazendo muito bem. Sentia minha respiração melhor do que nunca, como se a cada inspiração meu corpo se energizasse, talvez seja isso que os trouxas chamam de "Ar puro do interior".

Mas, voltando àquela sigla, lembrei de uma aula de História da Magia do professor Cuthbert Binns (realmente o ar daqui faz muito bem, jamais lembraria de uma aula de uns vinte anos atrás, acho que de 1945). O professor nos contou de uma época em que o mundo dos trouxas e o nosso mundo quase fizeram as pazes, algo por volta de 355 a.C. (adoro o calendário trouxa), mas essa data é incerta, uma vez que a inquisição da igreja destruiu quase todos os registros.

Essa fusão de mundos quase ocorreu graças aos antigos alquimistas, tanto trouxas quanto bruxos, que buscavam responder a questões universais/divinas através da magia e da química. Acredito que tenha sido a busca por essas respostas que acabou por unir trouxas e bruxos. "V.I.T.R.I.O.L." era a sigla para: "Visita Interiora Terrae, Rectificando, Invenies Occultum...", o "L" eu realmente não me lembro... Acho que a tradução fica mais ou menos assim: "Visita Interior da terra, retificando-se encontrará… oculta". O que viria antes de "oculta"?

Espero que sejam especiarias exóticas para novos sabores de feijões mágicos. Apesar de ser só um disfarce para um auror federal como eu, preciso ser convincente ou meu plano de entrar na floresta peruana para achar os fabricantes de 'Gíria', pode ir para o ralo. Além do mais, realmente novos sabores de feijões seriam bem-vindos, estou cansado de comer os mesmos sabores de cera de ouvido, meleca e banana.

Enquanto caminhava para o fundo daquele portal, senti o chão se inclinar para frente, como se estivesse descendo, e um cheiro forte de incenso começou a subir, acho que é de acácia. Sim, sem dúvidas.

É estranho um cheiro como esse por aqui. A acácia é originária do Oriente Médio e da África, possuindo apenas uma subespécie na América do Sul - e com certeza não tem esse cheiro. Esse cheiro é de acácia do deserto, uma árvore muito respeitada pelos trouxas, principalmente por algumas sociedades secretas, como os Rosa Cruz e Maçons. Acredita-se que foi com essa madeira que fizeram a coroa de espinhos de Jesus Cristo, já para os bruxos, ela é uma excelente madeira para varinhas.

Continuando a minha caminhada, surge outro portal circular, dessa vez menor. Nele, ao invés de inscrições, havia desenhos, algumas pareciam com aves de bico fino, outros corvos e no topo uma figura deveras engraçada e cativante: um galo.

Olhar aquele pássaro foi como voltar à minha infância, na casa da minha avó, mais especificamente em sua cozinha, na qual havia uma cesta em formato de galinha onde ela guardava os ovos e um galo sempre acima do fogão em uma prateleira.

Esse galo, por estar acima do fogão, acabava ficando sujo com o vapor e a fumaça da comida, mas minha avó mantinha ele limpinho e um dia me disse: "Ygi, meu querido, você deve achar sua avó uma tola por sempre ter que limpar esse galo velho, mas tem um motivo para ele estar sempre aqui, o galo é para nos lembrar a importância da vigilância e pontualidade e assim como o anunciar de um novo dia no qual devemos acordar, precisamos lembrar de mexer o molho", riu meigamente, "ou ele pode queimar."

Realmente esse "ar" está mexendo comigo, nunca tive lembranças tão vívidas... Mas porque não consigo me lembrar o significado daquela última letra, o "L"? Do jeito que as minhas lembranças estão afloradas, acho que logo lembrarei.

Quando dei o primeiro passo para dentro daquele portal menor, senti uma onda de impacto gigantesca como se cem Expelliarmus fossem disparados em minha direção. Fui jogado para trás como um boneco de pano nas mãos de uma criança má.

Não me lembro bem, mas acho que fiquei desacordado por algumas horas e, ainda meio tonto, consegui me sentar com as costas apoiadas nas paredes, quando de longe surge uma risada carregada e gutural, parecendo a de um trouxa que fumou durante muitos anos.

Era um elfo doméstico, gordo com orelhas enormes e uma pele verde escura (típicos daquela região). Usava uma túnica verde com detalhes dourados e um enorme medalhão com um desenho estranho, e com aquela mesma voz falou: "Bruxo idiota, acha que vai entrar na Câmara das Reflexões cheio de orgulho e vaidade? Mostre respeito, você está diante da Grande Fonte, aqui é o repositório dos segredos dos mundos, não é um lugar para pretensões arrogantes!"

O medalhão do Elfo exibia este desenho
Com minha cabeça ainda doendo, consegui me levantar e, sem pensar, respondi: "Quem é você? Desculpe a minha falta de educação, sou Ywgie, Ywgie Maclaoud, prazer em conhecê-lo, qual o seu nome?"

Estendi minha mão para complementar os meus "cumprimentos" e, com um olhar de desdém e talvez um pouco de surpresa, o elfo levantou aqueles dedos longos e finos e apertou minha mão. "O que faz aqui, bruxo? Certamente não veio atrás da Fonte, ela só aparece para aquele que não a procura, mas sabe que precisa dela. A propósito, meu nome é Phimcho."

Eu respondi que estava procurando especiarias para a fabricação de novos sabores de feijões mágicos e que "o velho Umunga havia me dito que..."

Fui interrompido abruptamente pelo elfo: "Mentiroso! Umunga morreu há milhares de anos, foi o último guardião vivo da Fonte, seu espírito está aqui junto com todos os outros Iniciados, não teve como você ter falado com ele!"

Iniciados? Mortos? Eu estava surpreso. "Ei, eu não sou mentiroso e que história é esse de Iniciados?"

"Bruxo idiota, acha que eu vou cair nessas bobagens que está me falando? Nunca vi um simples caçador de 'temperos', com uma bainha de varinha tão fina, aliás ninguém que usa uma varinha de 27 centímetros sólida, feita de fibra de coração de dragão, nasceu para ser negociante de besteiras. Quem é você?"

Fiquei surpreso com a mudança de humor da criatura e só fui capaz de quase dizer algo... "Eu, ah..."

Ao olhar para aquele elfo, vi em seu colar a resposta para a letra que faltava: "lapidem".

CONTINUA.
Próximo capítulo: "Quem é o Maclaoud?"


Nota: A seção "O Diário de um Auror" pertence exclusivamente à Ordem da Fênix Brasileira. O conteúdo nela publicado é desenvolvido por Juan Brandão. Existem referências à série literária "Harry Potter", criada por J.K. Rowling. Nomes, símbolos, seres e objetos não associados à série são frutos da imaginação do autor. O texto é editado e revisado por Vinícius Muniz.