"Será que Harry Potter nunca vai alcançar a magia do Oscar"?

'Será que Harry Potter nunca vai alcançar a magia do Oscar'? | Ordem da Fênix Brasileira
"Será que Harry Potter nunca vai alcançar a magia do Oscar"?
Por Mary McNamara - Los Angeles Times



Há um motivo para "Harry Potter e as Relíquias da Morte - Parte 1" ter estreado no meio de novembro. Afinal, é o início informal da temporada do Oscar. Ou a Warner Bros. não está dando atenção à Academia de Artes e Ciências Cinematográficas ou ainda guarda a expectativa de conseguir a atenção dos votantes, é difícil de acreditar que este ano vai ser um pouco diferentes dos seis anteriores simplesmente pelo fato de o Oscar não gostar de Harry.

Pense sobre isso. Seis filmes e nenhum Oscar. Nenhum. Escadarias que se movem, quadros que falam, partidas de Quadribol de tirar o fôlego, vilões que amedrontam até os adultos, e nenhum Oscar. Houve indicações, por direção de arte, trilha sonora e figurino, mas nenhuma vitória, o que, sinceramente, é difícil de engolir. Como nenhum desses filmes ganhou por melhor figurino? O roteirista Steve Kloves, indicado ao Oscar por "Garotos Incríveis", só não adaptou um dos livros. Um feito sem precedentes nos anais da Associação de Roteiristas e, mesmo assim, ele nunca recebeu uma indicação por eles. Assim como todos os diretores e atores.

Está certo, Nenhum dos atores em seis dos mais populares filmes de todos os tempos foi indicado a um Oscar por suas atuações em "Potter". Não é surpresa que os jovens protagonistas Daniel Radcliffe, Emma Watson e Rupert Grint tenham sido ignorados, já que a academia prefere indicar adolescentes ou crianças por atuações coadjuvantes, a não ser em filmes com grande carga emotiva ou incoerente, como "O Piano" ou "Pequena Miss Sunshine”.

Mas os personagens adultos coadjuvantes têm sido muito bem interpretados por alguns dos melhores atores da Grã-Bretanha ou Irlanda. Richard Harris (1º Dumbledore), Michael Gambon (2º Dumbledore), Maggie Smith (Profª Minerva), Alan Rickman (Severo Snape), Ralph Fiennes (Lord Voldemort), Robbie Coltrane (Rúbeo Hagrid), Emma Thompson (Sibila Trelawney), Julie Walters (Molly Weasley), Brendan Gleeson (Olho-Tonto Moody), Kenneth Branagh (Gilderoy Lockhart), Imelda Staunton (Dolores Umbridge), Jim Broadbent (Horácio Slughorn) e agora Bill Nighy (Rufo Scrimgeour) — a lista chega ao absurdo. Todos desses atores são/foram brilhantes como personagens que poderiam ser facilmente mal interpretados e beirar o ridículo. Analisando as vestes, Rickman tem capa e cabelos totalmente negros, Ralph Fiennes parece uma cobra, Coltrane é um meio-gigante cabeludo, Brendan Gleeson tem um olho falso giratório. Estas não são coisas fáceis de trabalhar. E ainda sim, eles as fazem.

Com certeza alguns membros da academia lamentam não ter indicado Harris por seu último papel antes de sua morte, mas Gambon tem sido constantemente ignorado também. Como Alvo Dumbledore, ambos os atores usaram uma enorme barba branca, às vezes com um pequeno amuleto prendendo-a, e divertidos chapéus, e criaram um diretor completamente convincente que não é só o mais sábio e humilde dos homens, mas também o mais bondoso, detentor de um otimismo pesaroso até no momento de sua morte.

Nenhum dos adultos tem muito tempo em cena, mas se Judi Dench pode ganhar por Melhor Atriz Coadjuvante falando cinco linhas e vestindo enormes ancas postiças como a Rainha Elizabeth em "Shakespeare Apaixonado”, a cena de morte de Gambon, a arrogância e vergonha de Broadbent, ou o frenesi aflito de Rickman merecem no mínimo uma indicação.

Infelizmente, enquanto a academia adora dramas de alta-categoria tradicionais, nunca gostou muito de fantasia, principalmente quando o assunto é atuação. "O Senhor dos Anéis: O Retorno do Rei" pode ter vencido em 2004, mas nenhum de seus atores foi indicado. Imagine um ganhador de Melhor Filme e nenhum de seus atores indicados. Ian McKellen foi elogiado por sua atuação no primeiro, "A Sociedade do Anel”, mas depois disso, nada. Três filmes e nada para Viggo Mortensen, Orlando Bloom, Elijah Wood ou Bernard Hill, cujo Rei Theoden ainda enche meus olhos de lágrimas. "Desta vez, pela raiva, pelas perdas e pelas dunas vermelhas", esta fala exige coragem e uma habilidade para transcender tempo e espaço de um jeito que o mais moderno drama, não importa quão bom, simplesmente não consegue obter.

É irônico ou enfurecedor, dependendo de que lado da tela você esteja, pois o segredo para uma grande fantasia são personagens que são extraordinários e completamente humanos. É um dos requisitos para se interpretar um assassino em série ou um corrupto; também quando o personagem tem que ser convincente, como um bruxo das trevas ou como uma bruxa fiel. Conjurar um feitiço é, de certo modo, mais violento que rogar pragas, e balançar uma varinha implacável com toda seriedade exibe mais coragem (e mais finura em cena) que uma arma de fogo.

Talvez a academia esteja esperando até o final de "Harry Potter", assim como esperou pelo terceiro "Senhor dos Anéis". Ou talvez agora que são 10 indicados a Melhor Filme haverá chance não só para animações mas para filmes de fantasia. De qualquer modo, deve haver algum reconhecimento não só pelo sucesso dessa franquia cinematográfica, mas também pela magnificência e esforço nela investidos.

Accio, Oscar.