Morre Michael Gambon, intérprete de Alvo Dumbledore, aos 82 anos

Morre Michael Gambon, intérprete de Alvo Dumbledore, aos 82 anos | Ordem da Fênix Brasileira

É com grande pesar que informamos que o ator irlandês Michael Gambon, intérprete de Alvo Dumbledore a partir de "Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban", morreu hoje (28) aos 82 anos.

Uma declaração em nome de sua esposa, Anne Gambon, e de seu filho, Fergus, foi divulgada através da agente de publicidade Clair Dobbs (via The Guardian):

"Estamos arrasados em anunciar a perda de Sir Michael Gambon. Amado marido e pai, Michael morreu pacificamente no hospital com sua esposa Anne e seu filho Fergus ao lado de sua cama, após um ataque de pneumonia. Michael tinha 82 anos. Pedimos que respeitem nossa privacidade neste momento doloroso e obrigado por suas mensagens de apoio e amor."

Sir Michael John Gambon nasceu em Dublin, na Irlanda, em 19 de outubro de 1940. Ele e sua família se mudaram para Camden, em Londres, após a Segunda Guerra Mundial. Lá, Gambon recebeu a cidadania britânica e frequentou a escola antes de a família se mudar para Kent.

Apesar de ter nascido na Irlanda, Gambon admitiu uma vez: "Suponho que não consigo fugir disso, sou inglês, não sou?" Ele, no entanto, falava com sotaque de Dublin quando conversava com seus pais. Ele deixou a escola sem qualificação aos 15 anos e se formou como técnico de engenharia, assim como seu pai.

Aos vinte anos, Gambon decidiu iniciar sua carreira de ator. Ele retornou à Irlanda e desempenhou um pequeno papel em uma produção de "Othello", no Gate Theatre de Dublin, em 1962. Enquanto viajava pela Europa com a companhia, chamou a atenção de Laurence Olivier, que estava prestes a fundar o National Theatre de Londres e procurava atores interessantes para ingressar na companhia.

Durante seus quatro anos no National, Gambon também fez sua estreia no cinema na adaptação de "Othello", de Olivier, em 1965, e sua primeira aparição na TV aconteceu dois anos depois. Os anos 60 também provaram ser um momento importante em sua vida, com Gambon se casando com a matemática Anne Miller em 1962, e tendo um filho, Fergus, em 1964.

Vários papéis pequenos e sem fala se seguiram. Ele se lembrava de pouco, inclusive de dizer "Senhora, sua carruagem a espera" para Maggie Smith em uma comédia de época, até que o próprio Olivier o aconselhou a procurar papéis melhores nas províncias. Nas décadas seguintes, Gambon e Smith atuariam juntos novamente em outros projetos, inclusive em "Harry Potter", onde Smith interpretou Minerva McGongall.

Ele deixou o National em 1967 para ganhar experiência no Birmingham Rep (por recomendação de Olivier), interpretando um de seus papéis mais queridos no cinema na série de comédia da BBC "The Borderers", de 1968 a 1970. A atuação lhe rendeu um teste para interpretar James Bond no filme "007 - A Serviço Secreto de Sua Majestade" (1969), mas quando apareceu diante do produtor Cubby Broccoli, Gambon rejeitou a ideia. Relembrando o acontecido em entrevista ao The Independent em 2016, o ator contou: "Eu disse que não queria o papel porque não sou como ele [Bond]. Eu não tenho um cabelo bonito e sou um pouco gordo, e ele [o produtor] disse: 'Bem, o atual James Bond não tem cabelo... é uma peruca'. Bom homem." O papel foi para George Lazenby.

Gambon apareceu em várias peças no West End durante os anos 70. Nessa época, recebeu o apelido de "O Grande Gambon", que continuou ao longo de sua vida. Ele, entretanto, desprezava o apelido, que lhe foi dado pela primeira vez pelo ator Ralph Richardson após uma produção de "A Vida de Galileu" (1980): "Peter Hall me contou que foi isso que Ralph disse a ele sobre mim, mas ele pode muito bem ter falado isso no sentido circense, você sabe, como um palhaço ou algo assim", declarou em 1996. "De volta em casa, na Inglaterra, eu não ouço muito isso porque somos um bando de idiotas cínicos."

Embora ele tenha assumido papéis no cinema em "Enigma Fatal" (1973) e "A Fera Deve Morrer" (1974), seu principal trabalho fora do palco nessas décadas foi na televisão. Gambon ganhou seu primeiro BAFTA por sua atuação na série "The Singing Detective" (1986), da BBC, e recebeu elogios como o Comissário Jules Maigret em "Maigret" (1992), série baseada nos livros de George Simenon. No cinema, ele também atuou em "A Dança das Paixões" (1998) e "A Lenda do Cavaleiro Sem Cabeça" (1999).

Em 1998, Gambon foi nomeado Cavaleiro por serviços prestados ao teatro. O século 21 começou e ele recebeu uma indicação ao Emmy e ao Globo de Ouro por sua atuação como o presidente dos EUA Lyndon B. Johnson em "Bastidores da Guerra" (2002). Depois de anos mantendo seu casamento com sua esposa Anne em sigilo, Gambon começou a apresentar a cenógrafa Philippa Hart, que era 25 anos mais nova que ele, como sua namorada no set de "Assassinato em Gosford Park" (2001). Os dois se conheceram quando trabalhavam juntos na série "Longitude" (2000).

Ao longo de sua carreira, Gambon manteve sua vida privada. Certa vez, ele respondeu a uma pergunta sobre sua esposa perguntando: "Que esposa?" Quando o caso deles foi revelado publicamente em 2002, ele saiu da casa que dividia com sua esposa. Hart e Gambon tiveram dois filhos juntos, Tom e William. No entanto, ele nunca se divorciou de Anne e, em 2011, os dois voltaram a morar juntos enquanto ele continuava seu relacionamento com Hart.

Gambon continuou a trabalhar principalmente em filmes independentes. Somente em 2004, ele apareceu em cinco filmes diferentes, incluindo "Capitão Sky e o Mundo de Amanhã" e "A Vida Marinha com Steve Zissou", de Wes Anderson.

O mais notável, porém, foi o lançamento do terceiro filme da franquia "Harry Potter", "Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban". O papel de Alvo Dumbledore, o diretor da Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts, foi interpretado por Richard Harris nos dois primeiros filmes. Gambon assumiu após a morte de Harris em 2002. O papel foi originalmente oferecido a Ian McKellen (Gandalf em "O Senhor dos Anéis" e "O Hobbit"), que revelou em uma entrevista anterior que recusou o papel devido a comentários que o falecido Harris havia feito anteriormente sobre suas habilidades de atuação.

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Michael Gambon ficou mundialmente conhecido ao interpretar Alvo Dumbledore em "Harry Potter"

Gambon apareceu em todos os filmes seguintes de "Harry Potter". O ator insistia que era um trabalho fácil, dizendo: "Bem, eu não tenho que interpretar ninguém realmente. Eu apenas coloco uma barba e interpreto a mim mesmo, então não é uma grande façanha".

Notório brincalhão, Gambon era conhecido por mentir em entrevistas para se divertir. Em uma aparição memorável no programa "Top Gear", ele confessou ter contado a um jornalista que treinou no Royal Ballet Theatre, mas desistiu depois de cair do palco e atravessar um tambor na Royal Opera House.

Em outra entrevista, ele disse ao jornalista que era gay enquanto discutia seu papel como Oscar Wilde na série da BBC "Oscar" (1985). Questionado sobre se achava difícil interpretar um homem gay, Gambon respondeu: "Bem, achei muito fácil, porque eu costumava ser homossexual."

"Ele era tão estúpido", lembrou Gambon sobre o jornalista. "Eu disse que fui forçado a desistir e então ele perguntou por que e eu disse que era porque fazia meus olhos lacrimejarem. Achei que ele fosse rir, mas ele apenas escreveu."

Gambon manteve as jovens estrelas de "Harry Potter" entretidas com piadas, incluindo uma vez em que ele e o falecido Alan Rickman (Severo Snape) esconderam uma "máquina de puns" dentro do saco de dormir de Daniel Radcliffe (Harry Potter) no Salão Principal e a ativaram durante uma cena particularmente silenciosa.

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Michael Gambon (Alvo Dumbledore) e Alan Rickman (Severo Snape) pregaram uma peça em Daniel Radcliffe (Harry Potter) durante uma cena de "Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban" (2004)

Nos anos pós-Potter, Gambon apareceu em vários papéis no cinema, após se aposentar dos palcos devido a problemas de memória. Em 2009, ele foi internado no hospital após sofrer um ataque de pânico no National Theatre por não conseguir se lembrar de suas falas.

Ele apareceu em "O Discurso do Rei" (2010) e voltou às obras de J.K. Rowling para a adaptação televisa de "Morte Súbita" (2015) e como dublador de Alvo Dumbledore no jogo "Harry Potter: Hogwarts Mistery" (2018). Outros papéis recentes no cinema incluem "Paddington 2" (2017) e a cinebiografia de Judy Garland, "Judy: Muito Além do Arco-Íris" (2019).

Gambon estrelou a série "Os Crimes de Fortitude" entre 2015 e 2018 e deveria aparecer na comédia "Breeders" (2020), mas supostamente deixou o projeto em 2019 depois de lutar para lembrar suas falas devido à perda de memória. Seu último papel creditado foi no filme "Cordelia" (2019).

Gambon também era autodepreciativo, dizendo sobre sua aparência em uma entrevista de 2010: "Não posso me olhar no espelho ou na janela porque odeio... É como um saco velho e molhado. Olhos inchados e malditos. Mas não há nada que você possa fazer sobre isso."

Porém, sua paixão por atuar permaneceu até o fim. "Quando não estou trabalhando, o que é raro, eu não existo", disse ele em 2010. "Todo o resto na minha vida está relacionado a ser ator e se a atuação não está indo bem ou se não estou trabalhando, então, todo o resto fica confuso. É uma coisa terrível de se dizer, mas é a verdade."

Descanse em paz, Sir Michael Gambon.
Nosso eterno Alvo Dumbledore.
"Afinal, para a mente bem estruturada, a morte é apenas a grande aventura seguinte."