J.K. Rowling e Margaret Atwood estão entre as mais de 150 celebridades que assinaram uma carta contra a "cultura do cancelamento"

J.K. Rowling e Margaret Atwood estão entre as mais de 150 celebridades que assinaram uma carta contra a 'cultura do cancelamento' | Ordem da Fênix Brasileira
J.K Rowling ("Harry Potter"), Margaret Atwood ("O Conto da Aia" e "Vulgo Grace") e Salman Rushdie ("Os Filhos da Meia-Noite") estão entre as mais de 150 figuras públicas que assinaram uma carta condenando a prática da cultura do cancelamento".

"Cultura do cancelamento" é um termo usado para descrever uma espécie de boicote a indivíduos (geralmente celebridades) que compartilharam uma opinião questionável ou controversa, ou que no passado tiveram comportamentos considerados ofensivos, e por isso são "cancelados" nas mídias sociais. Rowling é um exemplo recente disso, devido às suas opiniões sobre a comunidade trans — leia mais.

Atwood recebeu uma reação considerável no final de 2016, depois de apoiar uma carta aberta pedindo à Universidade da Colúmbia Britânica (Canadá) que forneça seus motivos para suspender e demitir o escritor e instrutor Steven Galloway, depois que surgiram alegações de agressão sexual. Enquanto isso, o romance de Rushdie, de 1988, "Os Versos Satânicos", também atraiu críticas ao longo dos anos por alegadamente insultar as crenças islâmicas.

Outros signatários da carta incluem o agente literário de Rowling e produtor de "Animais Fantásticos" Neil Blair, os autores Martin Amis e Jeffrey Eugenides, os intelectuais públicos Malcolm Gladwell e Noam Chomsky, o músico de jazz Wynton Marsalis, o psicólogo Steven Pinker, a feminista Gloria Steinem, o mestre de xadrez Gary Kasparov e a jornalista da CNN e do Washington Post, Fareed Zakaria.

A carta, publicada na terça-feira (7) na Harper's Magazine, com o título "Carta sobre justiça e debate aberto", além de descrever o presidente Trump como uma "ameaça à democracia", afirma:
"A livre troca de informações e ideias, a força vital de uma sociedade liberal, está diariamente se tornando mais restrita. Embora esperemos que isso seja da direita radical, a censura também está se espalhando mais amplamente em nossa cultura: uma intolerância a opiniões opostas, uma moda de vergonha e ostracismo públicos e a tendência de dissolver questões políticas complexas com uma certeza moral ofuscante. Defendemos o valor da contra-fala robusta e até cáustica de todos os setores. Mas agora é muito comum ouvir pedidos de retribuição rápida e severa em resposta a transgressões percebidas da fala e do pensamento."

"Quaisquer que sejam os argumentos em torno de cada incidente em particular, o resultado tem sido estreitar constantemente os limites do que pode ser dito sem a ameaça de represália", argumenta a carta. "Já estamos pagando o preço com maior aversão ao risco entre escritores, artistas e jornalistas que temem por seus meios de subsistência se eles se afastarem do consenso ou até mesmo se não tiverem zelo suficiente em acordo".

"Precisamos preservar a possibilidade de discordância de boa-fé sem terríveis consequências profissionais. Se não defendermos exatamente aquilo de que depende nosso trabalho, não devemos esperar que o público ou o estado o defenda por nós", conclui a carta.
O texto na íntegra pode ser lido aqui.

[+] Esta semana, Rowling esteve envolvida em mais polêmicas após sugerir no Twitter, em resposta a um usuário, que os jovens estão sendo "desviados" de hormônios e cirurgias que podem não ser de seu interesse, e comparou as medidas com a "terapia de conversão". O usuário publicou: "Quem tinha apostado que a J.K. Rowling iria apoiar aqueles que dizem que quem toma medicamento para saúde mental é preguiçoso? Eu tomo remédios diários para funcionar, esse sentimento é muito ofensivo, e é ativamente prejudicial a milhões".

Na resposta de 11 tweets, Rowling iniciou dizendo que havia ignorada diversos comentários sobre si nos últimos dias, mas não iria ignorar este. "Quando você mente sobre o que eu acredito sobre medicamentos para a saúde mental e quando deturpa os pontos de vista de uma mulher trans por quem não sinto nada além de admiração e solidariedade, você passa dos limites", disse. "Muitos, inclusive eu, acreditamos que estamos assistindo a um novo tipo de terapia de conversão para jovens gays , que estão sendo colocados em um caminho de medicalização ao longo da vida que pode resultar na perda de sua fertilidade e/ou função sexual completa", escreveu Rowling em uma das publicações.

[+] Atwood, também no Twitter, defendeu a comunidade trans ao publicar que "A biologia não lida com compartimentos fechados. Todos fazemos parte de uma curva fluída. Respeitem isso! Alegrem-se com a variedade infinita da natureza!", e respondeu a uma seguidora que dizia que ela era "melhor" que J.K. Rowling por seu posicionamento: "Hum, esse também não é o caso. Não sou 'melhor'. Pessoas diferentes são boas em coisas diferentes. É preciso tentar entender os medos de outras pessoas. (Muito disso parece ser sobre banheiros. Existem muitas maneiras inventivas de resolver os medos do banheiro. As pessoas são criativas, certo?)".

Via Variety.