Crítica de "Animais Fantásticos: Os Crimes de Grindelwald" #6

Crítica de 'Animais Fantásticos: Os Crimes de Grindelwald' #6 | Ordem da Fênix Brasileira
Crítica de "Animais Fantásticos: Os Crimes de Grindelwald" #6
Por Daniel John Furuno | Jovem Nerd

É preciso falar sobre o erumpente na sala: J.K. Rowling pode ser uma grande escritora, responsável pela série literária mais importante das últimas décadas, que cativou milhões de pessoas ao redor do planeta e formou toda uma nova geração de leitores. Mas não tem se mostrado uma boa roteirista.

Não é problema de adaptação. Afinal, a nova saga derivada de Harry Potter não transporta uma história já publicada para as telonas — pelo contrário, trata-se de uma expansão do Wizarding World escrita diretamente para o cinema. Tampouco é questão de inexperiência, uma vez que a autora teve papel ativo nos oito longa-metragens do menino bruxo, com a palavra final sobre todos os scripts e crédito de produtora nos dois últimos filmes daquela série.

Ao que tudo indica, o mal que acomete a britânica em seu novo ofício é bem parecido com o enfrentado por muitos de seus colegas literatos: a falta de distanciamento para enxergar na própria obra problemas de prolixidade, estrutura e desenvolvimento. No caso de um escritor, tal lacuna seria preenchida pelo editor. J.K., por sua vez, poderia recorrer ao auxílio de um corroteirista, que ofereceria o mesmo tipo de olhar externo. Ela, no entanto, o tem evitado até agora — algo que Animais Fantásticos: Os Crimes de Grindelwald mostra ser um erro.

O longa, ambientado um ano depois dos eventos retratados no anterior, mostra a ascensão de Gellert Grindelwald (Johnny Depp), cujos planos de dominação incluem o recrutamento de Credence Barebone (Ezra Miller), agora em total controle de seus poderes. Cabe a Alvo Dumbledore (Jude Law) tentar convencer seu ex-aluno Newt Scamander (Eddie Redmayne) a proteger o jovem das garras do bruxo das trevas. Eventualmente, o magizoologista abraça a missão, com a ajuda da auror Tina Goldstein (Katherine Waterston) e do não-maj Jacob Kowalski (Dan Fogler).

A autora dedica boa parte de seus esforços à introdução de informações que trarão consequências mais à frente. A principal, guardada para os últimos minutos, é no mínimo controversa — pode explodir cabeças ou franzir os cenhos, devido ao possível retcon no cânone. Outros elementos são apresentados de forma pouco integrada ao enredo. Nagini (Claudia Kim), por exemplo, faz pouco mais do que promover uma ligação com a saga original (além de mais uma alteração na história que conhecemos). E a mudança pela qual certo personagem passa é abrupta — a motivação está lá, mas sem aprofundamento e, portanto, pouco convincente.


Com a ênfase dada à elaboração da narrativa mais ampla, o filme não funciona como unidade isolada. O único arco que se completa é o de Leta Lestrange (Zoë Kravitz). Entretanto, sua reviravolta, concebida para ser trágica, se apoia em um evento inverossímil, o que faz com que perca força. De modo similar, há uma razão nada plausível para o afastamento inicial de Newt e Tina; eles voltam a se aproximar, é claro, mas, ao término de duas horas, isso os coloca praticamente no mesmo lugar em que estavam no final de Animais Fantásticos e Onde Habitam (2016), deixando aquela desagradável sensação de trama estagnada.

Nem mesmo o casal coadjuvante salva. O impasse vivido por Jacob (que continua a ser um alívio cômico eficaz) e Queenie (Alison Sudol) é compreensível; todavia, a sequência que o estabelece — a ida à casa do magizoologista — é mal construída e melodramática.

No lado positivo, o destaque fica para a relação entre Dumbledore (Jude Law prova-se uma ótima escolha para o papel) e Grindelwald. A sugestão de que possa haver algo ali além de amizade é feita com elegância, ao passo que a explicação para o fato de o futuro diretor de Hogwarts não agir pessoalmente contra o antigo aliado é satisfatória.

Mais do que familiarizado com o Wizarding World (este é o sexto longa da franquia comandado por ele), David Yates também é ponto forte. Sua direção rende diversas passagens de encher os olhos, especialmente no que se refere ao design das criaturas — as cenas no circo em Paris são um espetáculo à parte. O que não evita algumas escolhas questionáveis. A primeira interação entre Newt e Leta, por exemplo, inclui closes que buscam ressaltar seu envolvimento passado; o resultado, porém, é mais exagerado do que estiloso.

Animais Fantásticos: Os Crimes de Grindelwald capricha no volume de informações e na preparação de terreno, todavia, não demonstra grande preocupação em contar uma história. O negócio é torcer para que seja apenas um tropeço na série e que J.K. se saia melhor como roteirista daqui em diante. Inclusive, a autora poderia se lembrar de algo que Ron diz a Harry em Harry Potter e a Ordem da Fênix (2007): "Talvez você não tenha que fazer isso sozinho".