Em entrevista ao Estadão, Tom Felton revela que foi dele a ideia da première de "Relíquias da Morte - Parte 2" no Brasil

Em entrevista ao Estadão, Tom Felton revela que foi dele a ideia da première de 'Relíquias da Morte - Parte 2' no Brasil | Ordem da Fênix Brasileira
ENTREVISTA COM TOM FELTON
Roberta Pennafort / RIO -
O Estado de S. Paulo


O sombrio Draco Malfoy, quem diria, sonhava conhecer o Rio. Foi Tom Felton quem sugeriu a inclusão da cidade no roteiro mundial de promoção da série Harry Potter, o próprio propagandeia. "Falei anos atrás: mandem alguém ao Brasil, mesmo que não seja eu! Agora tenho três dias no Rio, quero ir à praia, andar na rua, e não posso. Vou voltar como turista", ele brincava na sexta-feira ensolarada que sucedeu à histérica pré-estreia carioca de Harry Potter e As Relíquias da Morte - Parte 2 no Morro da Urca, para 500 fãs famintos por autógrafos e fotos.

Parte deles não se contentou e deu plantão na porta do Hotel Copacabana Palace, onde o ator britânico se hospedou com a namorada, para tentar vê-lo de novo. Bem acostumado aos efeitos inebriantes da pottermania, ele foi gentil e desceu até um grupo de meninas envoltas em suas capas para mais cliques. No Twitter, agradeceu a recepção calorosa. Comeu em churrascaria, pisou descalço as areias de Copacabana e viu o Rio de cima do Mirante Dona Marta.

Aos jornalistas, também foi só sorrisos. Seja sobre o aspecto bittersweet (amargo/doce) do fim da saga ou sobre os eventuais problemas que a fama pode ter causado - no caso do protagonista, Daniel Radcliffe, o confessado abuso de álcool, o qual Felton naturalmente prefere não comentar -, não há pergunta que não tenha sido feita. Mas o jovem londrino (faz 24 anos em setembro) não se mostra enfadado. Parece, de fato, feliz com esse fecho com chave de ouro de uma década ainda mais dourada.

"As pessoas estavam esperando por esse último filme há anos, e a gente também estava ansioso para vê-lo e promovê-lo pelo mundo. Não imagino que alguém vá ficar decepcionado. Os fãs são tão loucos que já ouvi que em algumas sessões não dá para ouvir o que se passa na tela, de tanta gritaria", contou Felton, menos louro e pálido do que se vê no cinema.

A alegria vem da sensação de liberdade. Livrou-se não só da tintura exagerada e da proibição de pegar sol, mas também da rotina fatigante que leva desde os 14 anos (é ligeiramente mais velho do que os três atores principais), que lhe tirou as horas à frente do Playstation, as viagens para esquiar e a chance de fazer outros filmes.

Há pouco mais de um ano, implodida Hogwarts, ele correu para o cabeleireiro e para novos sets. Fez três filmes, todos com lançamento esse ano ainda. O primeiro é O Planeta dos Macacos: A Origem, com direção de Rupert Wyatt, que estreia em agosto. Depois virão duas produções menores, Grace and Danger, de Rhys Hayward, e The Apparition, de Todd Lincoln. "Antes, era difícil fazer outros filmes, por causa da falta de tempo e também pelo cabelo. É muito bom não ter que se preocupar com a tintura! Assim que terminaram as filmagens, eu pintei de castanho. Mas não adiantou muito, porque o louro fica voltando...", mostra a cabeleira sobre a testa avantajada.

Ao contrário de Emma Watson, a Hermione, que já deu declarações ultraemotivas - sente-se com um buraco no peito, como se alguém estivesse morrendo -, e de Radcliffe, que se disse arrasado, Felton preferiu, ao menos em sua passagem pelo Brasil, falar do lado positivo da aventura por que passou.

Não, ele não acha que sua imagem vá se cristalizar como a do principal antagonista de Harry em Hogwarts. Sim, ele praticamente passou a adolescência em branco, só que agora, como os demais, vai poder usufruir da projeção que uma franquia que rendeu mais de US$ 21 bilhões (até agora) propicia. Nos Estados Unidos e no Canadá, sexta-feira, foi batido o recorde de arrecadação de um filme no dia de estreia: U$$ 92,1 milhões.

Felton deseja um dia ser chamado para trabalhar com Steven Spielberg e Guy Ritchie, além de diretores pelos quais passou nesses dez anos, como Chris Columbus e David Yates. E ainda espera carregar as amizades que consolidou filme após filme.

É claro que soma-se a esse saldo positivo seus milhões de libras. "O que eu fiz com todo o dinheiro que ganhei?", zomba, com toque tipicamente inglês. "Para ser honesto, não fiz muita coisa. Investi, mas não sei onde, comprei carros para mim, meus irmãos, minha mãe. Quando era garoto, comprava skates."

Felton trabalha como ator desde os oito anos e sempre foi bem sucedido em audições infantis. Canta, criou selo com amigos para lançar jovens artistas, mas planeja mesmo é continuar atuando. Sabe que vai demorar para ser visto com a idade que tem.

"As pessoas acham que você tem 15, 16 anos, e quando te olham com 22, com barba, estranham. As crianças ficam frustradas. Querem aquele cara louro, não eu. Pensam: "Quem é você?" Por outro lado é bom que as pessoas não saibam que papel eu fiz nos últimos dez anos", diz o ator. "Na Inglaterra, não tenho o menor problema, sou famoso cinco, seis dias por ano, quando promovemos Harry Potter, mas é só isso. Eu posso pegar o metrô, o trem. Juro!"