Crítica de "Animais Fantásticos e Onde Habitam" #4

Crítica de 'Animais Fantásticos e Onde Habitam' #4 | Ordem da Fênix Brasileira
Magia adulta
Por Lucas Salgado | AdoroCinema


Lançado em 2001, Harry Potter e a Pedra Filosofal foi a primeira adaptação do universo criado por J.K. Rowling para as telonas. Depois disso, foram outros sete filmes. E com o passar do tempo, os personagens foram crescendo e a trama ficando mais adulta. Ao mesmo tempo, o público também foi crescendo junto com os atores. Com o anúncio de um novo longa passado no universo, o receio era de que ignorasse este amadurecimento do espectador para investir mais uma vez no público infantil.

Felizmente, não é o que acontece em Animais Fantásticos e Onde Habitam, primeiro de cinco produções que chegarão aos cinemas nos próximos anos. Trata-se de uma obra mais adulta. Afinal, quem cresceu com a franquia, já é adulto hoje em dia. Mas não se preocupem, não vai faltar magia.

O título remete ao nome de um livro citado em Harry Potter. O autor da obra é Newt Scamander (Eddie Redmayne), um ex-aluno de Hogwarts que chega a Nova York com uma maleta repleta de animais mágicos. Após uma confusão, alguns bichos acabam soltos na cidade e o bruxo é obrigado a capturá-los antes que causem algum mal.

A premissa não poderia ser mais simples e boba - e de fato rende cenas dispensáveis e infantis. Mas fica só nisso, é apenas a premissa. Não estamos diante de "Harry Potter Go". O roteiro, de autoria da própria Rowling, é bem mais complexo do que isso, inserindo diversas camadas. Consegue introduzir bem o universo mágico dos Estados Unidos, com direito a presidente, congresso e termos bem diferentes do qual nos acostumamos, que é aquele da Inglaterra. Na verdade, Newt chega numa NY atormentada por ataques recentes de uma criatura mágica misteriosa. Ao mesmo tempo, a comunidade bruxa de todo mundo vive sob o medo de Gellert Grindelwald (Johnny Depp).

O longa aborda temas como medo do desconhecido, repressão, fanatismo religioso e demonstra uma importante preocupação com representatividade ao colocar uma mulher negra no posto de presidente da comunidade mágica. E isso deve ser ainda mais explorado nos próximos filmes.

Quem espera uma produção repleta de referências a Harry Potter vai se decepcionar. Mas a verdade é que é bom que Animais Fantásticos seja uma obra mais fechada em si mesmo. Há citações, é claro, a personagens como Dumbledore, a feitiços conhecidos, a sobrenomes famosos e às relíquias da morte, mas nada que passe de pequenas dicas ou apontamentos do que ainda vem por aí.

James Newton Howard faz um belo trabalho na construção de uma trilha sonora original, embora seja difícil não se emocionar ao ouvir uns poucos acordes do tema de John Williams logo na abertura. Cabe destacar ainda o trabalho da equipe de efeitos visuais, que realmente fez jus ao adjetivo "fantásticos" que fica ao lado dos "animais".

Diretor dos quatro últimos filmes de HP, David Yates realizou mais um bom trabalho. Se em Harry Potter e a Ordem da Fênix (e seguintes) ele meio que seguiu um tom que Alfonso Cuarón havia empregado em Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban, aqui ele demonstra ter uma visão própria. O tom sombrio predomina, mas é curioso notar que boa parte da ação acontece num momento em que a luminosidade não é plena, nem escura, por volta do crepúsculo ou do amanhecer. Neste sentido, cabe destacar também o trabalho do diretor de fotografia Philippe Rousselot, de Peixe Grande e Suas Histórias Maravilhosas.

Sem cenas pós-créditos, mas com 133 minutos de duração, Fantastic Beasts and Where to Find Them (no original) peca um pouco em seu ritmo, fruto de uma montagem irregular de Mark Day, que trabalhou com Yates nos quatro últimos HP.

O elenco também merece destaque, especialmente Eddie Redmayne e Katherine Waterston. Ele não é o típico herói, se mostrando bem atrapalhado, mas ao mesmo tempo muito sensível. Ela, por sua vez, é uma ex-aurora que é louca para provar seu valor. Dan Fogler é o alívio cômico como um trouxa, ou não-mágico, mas tem mais espaço em cena do que devia. Colin Farrell, Ezra Miller, Samantha Morton, Jon Voight, Alison Sudol e Zoë Kravitz completam o time.

Animais Fantásticos e Onde Habitam é uma ótima reintrodução ao universo de J.K. Rowling. E, mais que isso, é uma expansão que abre inúmeras possibilidades daqui pra frente. Os próximos filmes devem explorar a figura de Grindelwald, seu conflito com Dumbledore e abranger ainda mais a história de Newt. Agora, é esperar pelo próximo. E que chegue logo!