Crítica de "Harry Potter e as Relíquias da Morte - Parte 2" #11

Crítica de 'Harry Potter e as Relíquias da Morte - Parte 2' #11 | Ordem da Fênix Brasileira
CRÍTICA DE HARRY POTTER E AS RELÍQUIAS DA MORTE - PARTE 2
Por Danilo Saraiva | Portal Terra


Eles não estavam errados quando no trailer anunciaram que o último capítulo da saga de Harry Potter é o evento mais esperado de toda uma geração. US$ 6,3 bilhões arrecadados em filmes da franquia e mais de 400 milhões de exemplares vendidos em todo o mundo,é seguro afirmar que Harry Potter não é apenas um best-seller fabricado, mas um best-seller fabricado que conseguiu se manter a ponto de tornar-se a principal inspiração de uma banal cultura pop que viria bem depois.

Por melhor que uma ação de marketing seja não é possível manter a popularidade de uma saga por tanto tempo. Crepúsculo, Percy Jackson e Crônicas de Nárnia estão aí para testar esta teoria. Harry sobreviveu porque contava com apoio: da autora, que não deixou sua obra cair em mãos erradas, do capitalismo desenfreado e de uma base de fãs que sente por Harry um amor que ultrapassa as páginas de um livro, as telas de cinema e toca por razões distintas. Sim, não é exagero dizer que a saga de Harry difere pouco de outras histórias que aprendemos a amar e odiar ao longo dos anos: a Bíblia, contos de fadas, folclores, mitologia. Há uma clara moral cristã em Harry Potter. Nem por isso ela deixa de ser brilhante. E é neste capítulo final da saga, que chega aos cinemas mundiais na próxima sexta-feira (15), que tomamos dimensão disso.

Com grande vigor, o literalmente fantástico elenco da franquia se reúne para uma despedida mútua: de Harry para os fãs, dos fãs para Harry. E mesmo com o lançamento do último livro, em 2007, e com quase todo mundo sabendo em detalhes tudo o que vai acontecer, é transportado nas telas de cinema que o choque se faz. Sabendo disso - e deste potencial todo -, o diretor David Yates prepara o espectador durante toda a projeção para que possamos dizer "adeus", a ponto de tornar a tarefa de assistir ao filme quase angustiante.

O longa começa exatamente aonde parou a primeira parte: com Voldemort (Ralph Fiennes) roubando a Varinha das Varinhas, uma das Relíquias da Morte. Após enterrar o elfo Dobby, Harry (Daniel Radcliffe) reúne os amigos Rony (Rupert Grint) e Hermione (Emma Watson), e, com a ajuda do duende Grampo (Warwick Davies), tenta invadir o banco Gringotes - nenhum bruxo conseguira tal feito até então - afim de encontrar mais uma das horcruxes - fragmentos de alma de Voldemort que precisam ser destruídos para que, enfim, o vilão deixe de ser imortal.

A caça ao tesouro continua e a partir daí, seguem-se cenas de tirar o fôlego, que culminam na inevitável - e trágica - batalha de Hogwarts, momento mais aguardado pelos fãs de carteirinha. Por mais de uma hora, duelos de magia e a guerra entre comensais da morte e seres obscuros contra os fieis seguidores do mago Dumbledore tomam a tela em imagens impressionantes. Percebe-se aqui que, tratando-se de tal saga, não foi preciso se preocupar com orçamento. Uma manobra honesta da Warner para com os fãs e que, provavelmente, tornará este filme ainda mais bem-sucedido do que os outros.

Por conta dos conflitos que o sexto filme da série, Harry Potter e o Enigma do Príncipe, sofreu - acidentes nas filmagens e um roteiro preparado antes do lançamento do último livro nas lojas -, Relíquias da Morte - Parte 2 tem sérios problemas de adaptação. Na falta de explicações deste sexto capítulo cinematográfico, aqui o sol teve que ser tapado com a peneira em vários momentos. A grande solução foi utilizar flashbacks e "charadas" para as explicações que ficaram faltando. Ainda assim, o roteirista Steve Kloves, com todo o apoio da autora J.K. Rowling, preferiu deixar coisas abertas a livres interpretações.

Outro aspecto positivo é que o longa tem os melhores diálogos da saga, o que reflete essa preocupação da Warner em não apenas arrecadar, mas a de entregar um trabalho realmente decente, mesmo esse sendo o último. São nesses pequenos diálogos que se apoiam talentos como Maggie Smith, Helena Bonham Carter e Alan Rickman, que aparecem e desaparecem nas telas com a rapidez de um 'Avada Kedavra', sem que deixem de confiar suas participações a personagens que serão igualmente lembrados no inconsciente coletivo.

Bem perto do adeus, Relíquias da Morte recorre a sentimentalismos piegas para provocar o choro. Tal medida, no entanto, torna-se estritamente necessária quando estamos falando de uma franquia tão consolidada quanto essa.

Dez anos depois de sua estreia em 2001 e mais de 14 anos após o lançamento dos livros, Harry Potter se encerra com a força de um titã. A lembrar que esta foi provavelmente uma das raras vezes que, em uma sessão exclusiva para figurinhas marcadas da imprensa e alguns poucos sortudos, um filme foi aplaudido nos acordes da tradicional música Hedwig´s Theme, de John Williams, que acompanha os créditos. Prova de que até mesmo os céticos críticos se renderam ao universo mágico de Rowling e finalmente reconheceram porque Harry Potter sobreviveu - e continuará sobrevivendo, por muito tempo.